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Catálogo do escritor mudou de editora e suas obras estão sendo reeditadas
Milly Lacombe, especial para o iG Cultura
Foto: Agência EstadoAmpliar
O poeta Carlos Drummond de Andrade
Sempre haverá quem diga que a crônica é um gênero literário menor, ainda que gigantes de nossa literatura - como Machado de Assis, Nelson Rodrigues e Clarice Lispector - tenham se consagrado também como cronistas. Mas o "oficio de rabiscar sobre as coisas do tempo", como definiu Carlos Drummond de Andrade, permanence, injustamente, à margem.
O próprio Drummond (1902-1987) entregou-se à arte em textos publicados a partir de 1954 no jornal Correio da Manhã. Textos que, com novo acabamento gráfico, chegaram às livrarias no dia 10 de março, compilados em "Fala, Amendoeira", livro que reúne algumas das crônicas do poeta e publicado originalmente em 1957.
Em "Fala, Amendoreira" podemos topar com um Drummond mentiroso lendo "Garbo:Novidades", que conta a respeito de uma misteriosa visita de Greta Garbo a Belo Horizonte. Na crônica seguinte, o poeta-cronista se compara a Macunaíma para revelar: "Eu menti", e rabiscar um novo texto sobre Garbo e a tal visita.
Tem ainda Drummond comediante em "Assembleia Baiana", que descreve hilariamente uma sessão fictícia, e em "Essência, Existência", um Drummond ácido que ironiza e critica o sistema que nos cerca e teima em oprimir. Conhecer Drummond cronista é entender que esse gênero literário tão brasileiro não pode ser menor do que nenhum outro.
Foto: Reprodução
Capa do livro 'Fala, Amendoeira', de Drummond
Agora com o selo Companhia das Letras, depois de ter ficado por quase 30 anos na Record, a obra de Drummond ganha nova vida - identidade visual moderna, textos de apoio e pósfacios assinados por uma turma de jovens críticos. Com "Fala, Amendoreira" chegam às lojas outros três: "Contos de Aprendiz" (1951), "A Rosa do Povo" (1945) e "Claro Enigma" (1951).
Para a Companhia das Letras, vencer a disputa com a Record e poder publicar Drummond foi como marcar um gol que vale título - quando, no ano passado, a editora comprou os direitos sobre a obra, a decisão de relançá-lo o mais rapidamente possível foi imediata. Neste ano, serão 12 títulos, de um total que superará os 40.
Aliás, o troca troca entre editoras envolvendo titãs da nossa literatura tem sido uma constante no mercado. A obra do poeta Mário Quintana recentemente deixou a Editora Globo para ir para a Objetiva; Rubem Fonseca saiu da Companhia das Letras para a Agir; Lygia Fagundes Telles, da Rocco para a Companhia das Letras; e agora Drummond.
A enorme vantagem para o leitor é a do cuidado que as editoras novas têm com a embalagem. Quando a Agir, há alguns anos, relançou Nelson Rodrigues, o acabamento gráfico - moderno, robusto, pop, colorido - fez com que eu, que já tinha todos os livros, comprasse-os novamente e, claro, me entregasse a uma releitura.
Para o relançamento de Drummond, um conselho editorial foi formado. É ele que decidirá a cronologia do relançamento e indicará os nomes que assinarão os pósfacios; além disso, fotos de arquivo ilustrão as primeiras páginas, e as capas trarão sempre uma fotografia ou uma obra de arte.
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Quem já está familiarizado com a obra de Drummond tem aí uma grande desculpa para revisitá-la. Quem não conhece … bem, quem não conhece tem que entender que algumas leituras são não apenas direitos, mas deveres de quem foi alfabetizado nessa língua tão rica - Drummond, Machado de Assis e o português Eça de Queiroz, para citar apenas três.
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