PAPO DE HOMEM
Para dar início à interessante empreitada que é indicar e analisar “livros de macho”, comecemos falando de um que não necessariamente foi escrito para homens, mas que deve ser lido por homens. Isso porque existem características nas amizades masculinas que apenas os homens entendem. E é com isso que começo falando de um dos maiores romances do século XX: Ratos e homens, de John Steinbeck*.

Contada durante a recessão estadunidense da década de 1930, a história narra um breve trecho da vida de dois homens, George e Lennie. Os dois são completamente diferentes um do outro: o primeiro é franzino, mas esperto e inteligente, e o outro é muito grande e forte, mas meio retardado. O elo entre eles se resume apenas na amizade e na posição marginal que se encontram, já que não têm dinheiro, família ou propriedades.
Os dois viajam e trabalham juntos em fazendas no interior da Califórnia, fazendo bico. Levam uma vida dura e difícil, mas sonham em vencer na vida, utilizando os recursos acumulados em tantos anos de sofrimento. Porém, o que conseguem guardar não é suficiente, e provavelmente nunca será, pois não recebem muito mais do que um teto coletivo para morar e comida. Mesmo assim, seguem com o objetivo de um dia possuir suas próprias terras para cultivar e trabalhar.
Em uma das fazendas que trabalham, os personagens conhecem Curley, o mimado filho do patrão que costuma maltratar os funcionários e sua esposa, que os personagens se referem apenas como a “esposa do patrão” e cujo nome Steinbeck negligenciou por considerá-la apenas um símbolo de frustração e perigo para Lennie.
Ela é uma personagem chave dentro da narrativa, pois é ela – ou melhor, sua preocupação com própria beleza – quem vai definir o futuro dessa honrosa ligação.
Steinbeck é bastante habilidoso ao retratar uma época de “vacas magras” na sociedade estadunidense, personificada na figura de trabalhadores pobres e solitários, pouco estimulados a manter laços de afeto mais profundos. Nesse cenário, os homens são forçados a pensar, cada vez mais, apenas em seu próprio sucesso. Mesmo assim, o que se capta em Ratos e homens é a fidelidade entre dois homens, que obriga o leitor a passar, nas dez últimas páginas do livro, por uma das mais fortes e impressionantes experiências da história da literatura.
Homens tem seus laços definidos por parâmetros bem característicos, sendo um deles a proteção. O macho, desde pequeno, tem um instinto de querer ser reconhecido como forte, protetor, poderoso. Mas esse ponto não se resume apenas na postura física. Há também traços dele nos conselhos que damos ou quando tentamos encorajar o próximo. Fato: homens fracos necessitam de homens fortes. Isso se chama cumplicidade. E a recíproca é verdadeira nesse caso, já que homens fortes também precisam dos fracos para conseguir manifestar sua autoconfiança.

Outro ponto importante nas relações masculinas é a fidelidade, elemento importante para a manutenção do poder no coletivo. Quando era mais novo, jogava basquete em alguns clubes e certa vez um dos meus técnicos afirmou que nunca treinaria uma equipe feminina. Nós, jogadores, questionamos o porquê. A resposta foi simples: as mulheres do mesmo time, quando brigam ou discutem entre si, não passam mais a bola umas para as outras. Os homens podem até sair na porrada, mas se o companheiro estiver bem posicionado, a bola vai pra ele.
Não estou dizendo com isso que as mulheres não são fiéis entre elas. Mas todos sabemos que, na maioria dos casos, quando uma mulher se arruma para sair, faz as unhas e vai ao cabelereiro, o faz muito mais para competir com as outras mulheres do que para conquistar a nossa aprovação.
E é nessa relação genuinamente masculina que Steinbeck concentra a história de Ratos e homens. Ele também passa por outros assuntos, tais como as dificuldades econômicas e a crueldade dos donos de terras na época, contudo, é na relação entre George e Lennie que o autor concentra toda a sua força narrativa. Dois homens que se complementavam, e que estiveram juntos até o fim trágico de uma verdadeira e pura amizade.
O livro é uma importante referência literária norte-americana e seu nome vem de uma reflexão sobre a subordinação, tanto de ratos como de homens, às intempéries da vida. Entretanto, os humanos conseguem refletir sobre isso e eleger um caminho a seguir. E, mesmo assim, escolhem as mais cruéis maldades, ao invés dos mais belos atos de honra.
A história já foi adaptada quatro vezes para o cinema e televisão, sendo a última produção estrelada por John Malkovich e Gary Sinise, em 1992.
Link YouTube
Por isso, caríssimos leitores, fica aqui a minha primeira recomendação de “livros de macho”. Nessa obra vocês lembrarão de diversas experiências que passaram, e ainda passam, com os amigos que acumularam durante a vida. Lembrarão das inúmeras ajudas que receberam ou deram. Da proteção que reservaram ou da qual foram alvos. Afinal de contas, amizades masculinas são diferentes das femininas. Ou estou errado?
* John Steinbeck (1902 – 1968) foi um escritor norte-americano, nascido na Califórnia. Recebeu o Prêmio Nobel em 1962 e seus livros de maior destaque são Ratos e homens (1937), As vinhas da ira (1939) e A pérola (1947).
Para dar início à interessante empreitada que é indicar e analisar “livros de macho”, comecemos falando de um que não necessariamente foi escrito para homens, mas que deve ser lido por homens. Isso porque existem características nas amizades masculinas que apenas os homens entendem. E é com isso que começo falando de um dos maiores romances do século XX: Ratos e homens, de John Steinbeck*.
Contada durante a recessão estadunidense da década de 1930, a história narra um breve trecho da vida de dois homens, George e Lennie. Os dois são completamente diferentes um do outro: o primeiro é franzino, mas esperto e inteligente, e o outro é muito grande e forte, mas meio retardado. O elo entre eles se resume apenas na amizade e na posição marginal que se encontram, já que não têm dinheiro, família ou propriedades.
Os dois viajam e trabalham juntos em fazendas no interior da Califórnia, fazendo bico. Levam uma vida dura e difícil, mas sonham em vencer na vida, utilizando os recursos acumulados em tantos anos de sofrimento. Porém, o que conseguem guardar não é suficiente, e provavelmente nunca será, pois não recebem muito mais do que um teto coletivo para morar e comida. Mesmo assim, seguem com o objetivo de um dia possuir suas próprias terras para cultivar e trabalhar.
Em uma das fazendas que trabalham, os personagens conhecem Curley, o mimado filho do patrão que costuma maltratar os funcionários e sua esposa, que os personagens se referem apenas como a “esposa do patrão” e cujo nome Steinbeck negligenciou por considerá-la apenas um símbolo de frustração e perigo para Lennie.
Ela é uma personagem chave dentro da narrativa, pois é ela – ou melhor, sua preocupação com própria beleza – quem vai definir o futuro dessa honrosa ligação.
Steinbeck é bastante habilidoso ao retratar uma época de “vacas magras” na sociedade estadunidense, personificada na figura de trabalhadores pobres e solitários, pouco estimulados a manter laços de afeto mais profundos. Nesse cenário, os homens são forçados a pensar, cada vez mais, apenas em seu próprio sucesso. Mesmo assim, o que se capta em Ratos e homens é a fidelidade entre dois homens, que obriga o leitor a passar, nas dez últimas páginas do livro, por uma das mais fortes e impressionantes experiências da história da literatura.
Homens tem seus laços definidos por parâmetros bem característicos, sendo um deles a proteção. O macho, desde pequeno, tem um instinto de querer ser reconhecido como forte, protetor, poderoso. Mas esse ponto não se resume apenas na postura física. Há também traços dele nos conselhos que damos ou quando tentamos encorajar o próximo. Fato: homens fracos necessitam de homens fortes. Isso se chama cumplicidade. E a recíproca é verdadeira nesse caso, já que homens fortes também precisam dos fracos para conseguir manifestar sua autoconfiança.
Outro ponto importante nas relações masculinas é a fidelidade, elemento importante para a manutenção do poder no coletivo. Quando era mais novo, jogava basquete em alguns clubes e certa vez um dos meus técnicos afirmou que nunca treinaria uma equipe feminina. Nós, jogadores, questionamos o porquê. A resposta foi simples: as mulheres do mesmo time, quando brigam ou discutem entre si, não passam mais a bola umas para as outras. Os homens podem até sair na porrada, mas se o companheiro estiver bem posicionado, a bola vai pra ele.
Não estou dizendo com isso que as mulheres não são fiéis entre elas. Mas todos sabemos que, na maioria dos casos, quando uma mulher se arruma para sair, faz as unhas e vai ao cabelereiro, o faz muito mais para competir com as outras mulheres do que para conquistar a nossa aprovação.
E é nessa relação genuinamente masculina que Steinbeck concentra a história de Ratos e homens. Ele também passa por outros assuntos, tais como as dificuldades econômicas e a crueldade dos donos de terras na época, contudo, é na relação entre George e Lennie que o autor concentra toda a sua força narrativa. Dois homens que se complementavam, e que estiveram juntos até o fim trágico de uma verdadeira e pura amizade.
O livro é uma importante referência literária norte-americana e seu nome vem de uma reflexão sobre a subordinação, tanto de ratos como de homens, às intempéries da vida. Entretanto, os humanos conseguem refletir sobre isso e eleger um caminho a seguir. E, mesmo assim, escolhem as mais cruéis maldades, ao invés dos mais belos atos de honra.
A história já foi adaptada quatro vezes para o cinema e televisão, sendo a última produção estrelada por John Malkovich e Gary Sinise, em 1992.
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Por isso, caríssimos leitores, fica aqui a minha primeira recomendação de “livros de macho”. Nessa obra vocês lembrarão de diversas experiências que passaram, e ainda passam, com os amigos que acumularam durante a vida. Lembrarão das inúmeras ajudas que receberam ou deram. Da proteção que reservaram ou da qual foram alvos. Afinal de contas, amizades masculinas são diferentes das femininas. Ou estou errado?
* John Steinbeck (1902 – 1968) foi um escritor norte-americano, nascido na Califórnia. Recebeu o Prêmio Nobel em 1962 e seus livros de maior destaque são Ratos e homens (1937), As vinhas da ira (1939) e A pérola (1947).
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