Portal A TARDE
Mariana Paiva

Não se comentava outra coisa entre os estudantes da cidade de Salvador no ano de 1929: afeito a toda sorte de gracinhas, Carlos Marighella tinha respondido às questões da prova de física com versos rimados. Explicou a trajetória da luz refletida com desenhos e poetizou: "Doutor, a sério falo, me permita/ Em versos rabiscar a prova escrita/ Espelho é a superfície que produz,/Quando polida, a reflexão da luz".
Esta é uma das histórias contidas na biografia Marighella - O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, do jornalista Mário Magalhães. Fruto de um trabalho de nove anos - quase seis de dedicação exclusiva ao projeto -, a obra foi escrita a partir de entrevistas feitas com 256 pessoas e documentos secretos coletados em arquivos públicos e privados de países como Rússia, República Tcheca, Estados Unidos, Paraguai e Brasil.
Fundador da Ação Libertadora Nacional, maior grupo armado de oposição à ditadura militar, e militante do Partido Comunista, Marighella morreu numa emboscada em São Paulo em 4 de novembro de 1969. Sua trajetória é permeada por diversos momentos de perseguição e fuga, como o episódio escolhido para apresentar o livro ao leitor, a prisão de Marighella no cinema Eskye-Tijuca, no Rio de Janeiro. Também fazem parte da obra nomes célebres como Getúlio Vargas, Luiz Carlos Prestes, Jorge Amado e Glauber Rocha.
A caminhada política daquele que era considerado o inimigo número um da ditadura militar se iniciou na Bahia. Nascido numa casa onde hoje está a Fonte Nova, Marighella foi preso pela primeira vez em 1932, depois de uma manifestação estudantil. "Ele ainda não era um militante político. A perseguição decorrente de seu poema contra o interventor Juracy Magalhães, composto na cadeia em agosto de 1932, de certa forma empurrou-o para a esquerda, opção política que não mudaria até o fim de sua vida. Marighella começou enfrentando peixe grande, o interventor da Bahia. Mais tarde, na Constituinte de 1946, os dois teriam grandes duelos verbais no plenário. Na conflagração ideológica da época, Marighella aderiu ao Partido Comunista em 1934", revela o autor da biografia, Mário Magalhães.
Sem justiça - Magalhães discorda da pouca importância dada à figura de Carlos Marighella no Brasil, já que, segundo ele, o guerrilheiro foi o político baiano mais famoso fora das fronteiras do País. "Enquanto os manuais escolares ignorarem sua história, ele continuará a ser um brasileiro maldito. É incrível que ele tenha mais projeção no exterior do que no Brasil. Não defendo que os livros didáticos defendam Marighella, nem que o condenem, e sim que contem sua trajetória. Assim como seria desonestidade intelectual ensinar a história do Brasil ignorando um protagonista como Carlos Lacerda, anticomunista convicto, é um insulto à memória nacional eliminar os rastros de Marighella", considera.
Para escrever o livro, Magalhães leu mais de 70 mil páginas e teve acesso a diversos documentos raros ou que já tinham sido considerados perdidos neste tempo, como o inquérito da prisão de Marighella, em 1932, e sua certidão de nascimento.
Esta última contradizia um dos fatos tidos como certos na biografia de Marighella, que era seu nascimento na Baixa dos Sapateiros. No livro, o autor apresenta todos estes documentos ao leitor, além de fotografias de arquivo de Marighella e de seus contemporâneos, como sua companheira Clara Charf.
Memorial - Os documentos mais relevantes e secretos encontrados por Mário Magalhães enquanto fazia o livro serão doados para o Memorial Marighella, projeto público que começa a sair do papel. "Será construído em sua terra, a Bahia, com a participação de seu filho único, o advogado Carlos Augusto Marighella. Todo esse material, bem como as entrevistas, foi usado para escrever um livro em forma de romance: com drama, humor, ação, aventura, espionagem, paixões, amores, espionagem, ideias, história e histórias". O autor considera, entretanto, que a biografia de Marighella guarda vantagens em relação a um romance: "Tudo é escrupulosamente real, e mais fascinante do que seria qualquer história de ficção sobre Marighella", conclui o autor da obra.
Mariana Paiva
Companhia das Letras | Divulgação
Vida do guerrilheiro também é tema de documentário
Esta é uma das histórias contidas na biografia Marighella - O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, do jornalista Mário Magalhães. Fruto de um trabalho de nove anos - quase seis de dedicação exclusiva ao projeto -, a obra foi escrita a partir de entrevistas feitas com 256 pessoas e documentos secretos coletados em arquivos públicos e privados de países como Rússia, República Tcheca, Estados Unidos, Paraguai e Brasil.
Fundador da Ação Libertadora Nacional, maior grupo armado de oposição à ditadura militar, e militante do Partido Comunista, Marighella morreu numa emboscada em São Paulo em 4 de novembro de 1969. Sua trajetória é permeada por diversos momentos de perseguição e fuga, como o episódio escolhido para apresentar o livro ao leitor, a prisão de Marighella no cinema Eskye-Tijuca, no Rio de Janeiro. Também fazem parte da obra nomes célebres como Getúlio Vargas, Luiz Carlos Prestes, Jorge Amado e Glauber Rocha.
A caminhada política daquele que era considerado o inimigo número um da ditadura militar se iniciou na Bahia. Nascido numa casa onde hoje está a Fonte Nova, Marighella foi preso pela primeira vez em 1932, depois de uma manifestação estudantil. "Ele ainda não era um militante político. A perseguição decorrente de seu poema contra o interventor Juracy Magalhães, composto na cadeia em agosto de 1932, de certa forma empurrou-o para a esquerda, opção política que não mudaria até o fim de sua vida. Marighella começou enfrentando peixe grande, o interventor da Bahia. Mais tarde, na Constituinte de 1946, os dois teriam grandes duelos verbais no plenário. Na conflagração ideológica da época, Marighella aderiu ao Partido Comunista em 1934", revela o autor da biografia, Mário Magalhães.
Sem justiça - Magalhães discorda da pouca importância dada à figura de Carlos Marighella no Brasil, já que, segundo ele, o guerrilheiro foi o político baiano mais famoso fora das fronteiras do País. "Enquanto os manuais escolares ignorarem sua história, ele continuará a ser um brasileiro maldito. É incrível que ele tenha mais projeção no exterior do que no Brasil. Não defendo que os livros didáticos defendam Marighella, nem que o condenem, e sim que contem sua trajetória. Assim como seria desonestidade intelectual ensinar a história do Brasil ignorando um protagonista como Carlos Lacerda, anticomunista convicto, é um insulto à memória nacional eliminar os rastros de Marighella", considera.
Para escrever o livro, Magalhães leu mais de 70 mil páginas e teve acesso a diversos documentos raros ou que já tinham sido considerados perdidos neste tempo, como o inquérito da prisão de Marighella, em 1932, e sua certidão de nascimento.
Esta última contradizia um dos fatos tidos como certos na biografia de Marighella, que era seu nascimento na Baixa dos Sapateiros. No livro, o autor apresenta todos estes documentos ao leitor, além de fotografias de arquivo de Marighella e de seus contemporâneos, como sua companheira Clara Charf.
Memorial - Os documentos mais relevantes e secretos encontrados por Mário Magalhães enquanto fazia o livro serão doados para o Memorial Marighella, projeto público que começa a sair do papel. "Será construído em sua terra, a Bahia, com a participação de seu filho único, o advogado Carlos Augusto Marighella. Todo esse material, bem como as entrevistas, foi usado para escrever um livro em forma de romance: com drama, humor, ação, aventura, espionagem, paixões, amores, espionagem, ideias, história e histórias". O autor considera, entretanto, que a biografia de Marighella guarda vantagens em relação a um romance: "Tudo é escrupulosamente real, e mais fascinante do que seria qualquer história de ficção sobre Marighella", conclui o autor da obra.
Postar um comentário