TERRA

O barco Estelle partiu da Finlândia para protestar contra o bloqueio de Israel ao território palestino. Foto: Ship to Gaza/Divulgação
O barco Estelle partiu da Finlândia para protestar contra o bloqueio de Israel ao território palestino
Foto: Ship to Gaza/Divulgação

GUILA FLINT
Direto de Tel Aviv
A operação da Marinha de Israel que interceptou o barco Estelle, que estava a caminho da Faixa de Gaza, foi um "ato de burrice e brutalidade", segundo três ativistas que viajavam a bordo da embarcação. Os israelenses Elik Elhanan, Reut Mor e Yonatan Shapira estavam entre os 30 ativistas do barco Estelle, que partiu da Finlândia para protestar contra o bloqueio imposto por Israel ao território palestino. "Me senti como em um filme de Hollywood, foi inacreditável", disse Elik Elhanan.
No dia 20 deste mês, quando estava a cerca de 50 km de Gaza, em águas internacionais, o barco foi cercado e invadido por tropas israelenses. Todos os ativistas foram presos e levados para a cidade portuária de Ashdod, no sul de Israel. "Vi cerca de 15 barcos de guerra, com soldados totalmente encapuzados e armados, enquanto dois helicópteros sobrevoavam o Estelle", disse Elhanan, "e tudo isso para capturar um pequeno barco com apenas 30 pessoas desarmadas, entre elas vários idosos".
Elik Elhanan, que tem 35 anos e é doutorando de Literatura, afirma que os soldados atiraram nos ativistas com armas Taser - que disparam uma carga elétrica paralisante - e os algemaram. "Até uma jornalista sueca de 74 anos foi eletrocutada com Taser", disse. Para ele, a violência das tropas tem o objetivo de dissuadir outros ativistas de tentarem romper o bloqueio naval imposto por Israel à Faixa de Gaza e "também pode ser que servimos como cobaias para o treinamento das tropas".
Bloqueio
"Foi um ato de burrice e brutalidade, se não tivessem interceptado o Estelle, ninguém saberia da existência do barco, mas graças à ação de Israel todos ficaram sabendo de nosso protesto contra o bloqueio", afirmou Elik Elhanan. De acordo com Israel, já não há mais crise humanitária na Faixa de Gaza e não existe mais bloqueio.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, elogiou a ação das tropas e afirmou que "as pessoas que estavam no barco sabem que não há crise humanitária em Gaza, seu único objetivo foi criar uma provocação para manchar o nome de Israel". "Se realmente se importassem com direitos humanos, iriam para a Síria. Continuaremos tomando medidas enérgicas para defender nossas fronteiras", afirmou o premiê israelense.
Israel enrijeceu o bloqueio à Faixa de Gaza desde que o Hamas tomou o controle da região, em maio de 2007. De acordo com as autoridades israelenses, o principal objetivo do bloqueio é impedir a entrada de armas, que poderiam servir para atacar Israel.
Depois que as tropas israelenses mataram 9 ativistas que estavam no navio turco Mavi Marmara, que em 2010 tentou quebrar o bloqueio a Gaza, houve forte pressão internacional que levaram Israel a aliviar o bloqueio e permitir a entrada de alimentos e medicamentos no território palestino. "Mesmo se agora Israel já permite a entrada de medicamentos e alimentos, o bloqueio à Faixa de Gaza persiste", disse a ativista israelense Reut Mor, 30 anos, que também estava a bordo do Estelle.
"Estávamos levando instrumentos musicais, equipamento de teatro e cinema, livros infantis, purificadores de água e equipamentos médicos, além de cimento para construção", disse ela. A ativista também afirmou que Israel impõe uma "separação total" entre os palestinos da Faixa de Gaza e os que moram na Cisjordânia, não permitindo a livre movimentação entre as duas partes do território palestino. "Israel continua controlando o espaço aéreo e marítimo de Gaza, além da maioria das passagens terrestres", disse Reut Mor.
Egito
Desde que o novo presidente egípcio, Mohamed Mursi, assumiu o poder, a fronteira de Rafah, entre o Egito e a Faixa de Gaza, vem sendo gradualmente aberta para a passagem de pessoas e mercadorias. O presidente anterior, Hosni Mubarak, colaborava com Israel na imposição de um bloqueio quase hermético à Faixa de Gaza para enfraquecer o Hamas.
Porém, desde a mudança de regime no Egito, a abertura crescente de Rafah tem contribuído para uma melhoria da situação da população na região. O ativista Yonatan Shapira, que também estava no barco Estelle, afirmou que considera o bloqueio de Israel "não só um crime contra os palestinos como também contra os próprios israelenses".
Pensamento livre
"Fiquei muito contente de poder estar entre os ativistas do Estelle", disse Yonatan Shapira. "É importante que o mundo saiba que ainda existem israelenses que são capazes de pensar de maneira livre e que a lavagem cerebral do governo não conseguiu acabar com o pensamento racional nesse país", afirmou.
Shapira, 40 anos, foi piloto da Força Aérea israelense e em 2003 assinou a famosa Carta dos Pilotos, recusando-se a participar de ações militares contra civis palestinos. "O significado do Estelle foi principalmente simbólico - mesmo se tivéssemos conseguido entrar em Gaza, o bloqueio israelense não acabaria. O caminho para a liberdade e a igualdade ainda é muito longo", disse ele.
Os 27 ativistas europeus que estavam a bordo do Estelle, inclusive membros de parlamentos, foram expulsos de Israel. Os ativistas israelenses Elhanan, Shapira e Mor foram presos e acusados de "infiltração".

Comentário(s)

أحدث أقدم


Livros em Oferta

Confira e surpreenda-se com os preços extremamente baixos