Blog das Frases
Se alguém passou distraído por três décadas de domínio neoliberal, os últimos quatro anos ofereceram a oportunidade ímpar de acesso a um compacto eletrizante com as melhores (piores?) cenas do que é capaz a convergência entre finanças desreguladas e austeridade suicida. A vítima desse condensado pedagógico é o corpo social europeu mutilado por governantes armados do firme propósito de privilegiar bancos e credores, ao mesmo tempo em que sacrificam direitos, leis trabalhistas, serviços e investimentos públicos.
As cenas finais dessa imolação tangida pelo chicote germânico de Angela Merkel mostram uma montanha desordenada de escombros sociais e políticos arrematada por 17 milhões de desempregados - recorde europeu no pós-guerra. O conjunto faz da UE hoje a sigla tenebrosa de uma empresa demolidora que devasta a mais sólida rede de conquistas da civilização imposta ao capitalismo pela luta progressista dos últimos 60 anos: o hoje esquelético Estado do Bem Estar Social europeu.
Sob o pó desse desmonte dois países vão às urnas neste domingo no escrutínio da austeridade suicida. São decisões locais, mas de alcance mundial: podem ampliar ainda mais a margem de manobra ideológca e política rumo a novo ciclo histórico. O que se joga nas urnas presidenciais francesas e na Grécia - que renova 160 cadeiras de seu parlamento também neste seis de maio - é o passo seguinte da maior crise do capitalismo desde 1929. E isso não tanto pelas alternativas difusas ao repto de uma direita que dobrou a aposta em direção aos icebergs apesar do oceano coalhado de corpos ao seu redor. Acima de tudo, uma derrota de Sarkozy e dos kamizazes gregos - perdendo a atual maioria - enviará uma mensagem encorajadora ao mundo, sobretudo aos governantes progressistas e às forças democráticas: não basta mais lutar a guerra do dia anterior; a denúncia e a execração do credo mercadista estão consolidadas nas urnas.
Trata-se agora, na Europa como no Brasil e no resto do mundo de acelerar a construção das alternativas consequentes ao modelo que naufraga. Caso contrário, há o risco de se morrer na praia tragado pelo vácuo do afundamento conservador. Essa, felizmente, parece ser a percepção bem-vinda do governo Dilma, que registrou um importante salto político esta semana. Com intervalo de poucos dias, Dilma emparedou os bancos na esfera dos juros, removeu as amarras da poupança e promoveu um desagravo histórico a personagens e agendas progressistas que, a seu tempo e a seu modo, impulsionaram a luta pelo desenvolvimento brasileiro.
Postado por Saul Leblon
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