Carta Maior
Os opositores sírios estão ingressando em um caminho turvo. O Conselho Nacional Sírio (CSN) assume pela primeira vez a militarização do movimento de contestação contra o regime de Bashar Al Assad que iniciou há um ano. O presidente do CNS, Burhan Ghaliun (foto), esteve em Paris no mesmo dia em que o rumo da guerra interna tomava outra direção. Ghaliun modificou a linha inicial deste movimento ainda impreciso e anunciou a criação de um “bureau militar” para organizar o fornecimento de armas. O artigo é de Eduardo Febbro.
Eduardo Febbro - De Paris
Paris - A oposição síria agrupada no nascente Conselho Nacional Sírio (CNS) delineia sua identidade e suas ações futuras sob o peso da derrota militar que o regime de Bashar Al-Assad infligiu à rebelião após recuperar o controle de seu bastião, o bairro de Baba Amr, situado na cidade de Homs. O presidente do CNS, Burhan Ghaliun, esteve em Paris no mesmo dia em que o rumo da guerra interna tomava outra direção. Ghaliun modificou a linha inicial deste movimento ainda impreciso e anunciou a criação de um “bureau militar” para organizar o fornecimento de armas. A posição do responsável do CNS marca um giro na maneira pela qual esta instância criada no fogo da revolta enfoca o futuro.
Até agora, este conselho, considerado pelo chanceler francês Alain Juppé como o “interlocutor” do povo sírio, havia rechaçado tanto a ideia do fornecimento de armas como a de uma intervenção militar externa. O contexto mudou: a paralisia do Conselho de Segurança da ONU, onde Pequim e Moscou bloquearam o voto de uma resolução contra a Síria, assim como a evolução militar no terreno forçaram o CNS a considerar essa opção. Burhan Ghaliun interpelou os homens de negócios sírios e árabes a financiar primeiro os rebeldes e, depois, a fornecer armas.
Países como o Qatar já adiantaram que estão dispostos a isso e o parlamento do Kuwait aprovou uma resolução para armar a oposição. O Ocidente, em troca, exclui essa possibilidade ante o temor que se abra uma nova frente de jihadistas na região. Burhan Ghaliun parece ter se rendido à opção mais dura, Em novembro passado, este professor de Ciência Política dizia no jornal El-fajr: “Nossa revolução é pacífica e é nisso em que reside sua força”.
De fato, a entrega de armas aos rebeldes sírios já era uma realidade. A maioria dos abastecimentos ocorriam através do Iraque. Segundo explicou Ghaliun, a criação do “bureau” militar aponta para coordenar o fornecimento dessas armas e evitar que estas venham de países ou fontes comprometidas.
O dirigente precisou que o bureau estaria localizado “perto do campo de ação”, ou seja, provavelmente na Turquia onde se encontram há muito tempo os oficiais sírios que desertaram e criaram o Exército Sírio Livre (ESL). Em seu encontro com a imprensa, Burhan Ghaliun excluiu, porém, a ideia de que a revolução havia terminado e que agora havia chegado o momento de uma guerra civil na Síria. Algo metafórico em suas declarações, ele insistiu no caráter defensivo das armas: “trata-se de defender os civis e não de lançar a guerra”, repetiu várias vezes.
O corpo formado pela oposição civil e pelos militares desertores é, porém, muito nebuloso. O Exército Sírio Livre (ESL), sob comando do coronel Riad Assaud, é mais uma marca ou um apelo que uma entidade tangível. A falta de coordenação entre seus membros é absoluta. Além disso, não é a única estrutura desse tipo. Em fevereiro, o coronel Mustafá Al-Cheikk – o desertor de maior patente até hoje – criou uma estrutura que compete com o ESL: o “Conselho militar revolucionário superior para a libertação da Síria”.
Seja como for, Burhan Ghaliun assegurou na capital francesa que o “bureau militar” funcionará como um “Ministério da Defesa” e que coordenará as ações do ESL e do outro grupo militar. As palavras são uma coisa, os fatos são outra.
O Conselho Nacional Sírio dá mostras de ter uma postura radicalmente oposta a de Mustafá Al-Cheikk. Este coronel desertor explicou à imprensa desde a Turquia que bastaria dar um golpe em Damasco contra a família que detém o poder “para que o regime caísse”. Mais claro ainda, Al-Cheikk declarou que o que eles queriam era “uma intervenção internacional como a que ocorreu no Kosovo – ex-Iugoslávia -, mesmo sem uma resolução das Nações Unidas”.
Os opositores sírios estão ingressando em um caminho turvo, O CSN assume pela primeira vez a militarização do movimento de contestação contra o regime de Bashar Al Assad que iniciou há um ano. No início, era um movimento essencialmente pacífico, mas agora houve uma mudança de rota. A situação internacional, a força do Irã, a dança movediça da Liga Árabe e o consenso que impera no Ocidente pressagiam dias árduos para esta oposição. A guerra civil se desenha no horizonte como uma opção que voltará a mudar segundo o respaldo ou a indiferença que os rebeldes venham obter.
Tradução: Katarina Peixoto
Eduardo Febbro - De Paris
Paris - A oposição síria agrupada no nascente Conselho Nacional Sírio (CNS) delineia sua identidade e suas ações futuras sob o peso da derrota militar que o regime de Bashar Al-Assad infligiu à rebelião após recuperar o controle de seu bastião, o bairro de Baba Amr, situado na cidade de Homs. O presidente do CNS, Burhan Ghaliun, esteve em Paris no mesmo dia em que o rumo da guerra interna tomava outra direção. Ghaliun modificou a linha inicial deste movimento ainda impreciso e anunciou a criação de um “bureau militar” para organizar o fornecimento de armas. A posição do responsável do CNS marca um giro na maneira pela qual esta instância criada no fogo da revolta enfoca o futuro.
Até agora, este conselho, considerado pelo chanceler francês Alain Juppé como o “interlocutor” do povo sírio, havia rechaçado tanto a ideia do fornecimento de armas como a de uma intervenção militar externa. O contexto mudou: a paralisia do Conselho de Segurança da ONU, onde Pequim e Moscou bloquearam o voto de uma resolução contra a Síria, assim como a evolução militar no terreno forçaram o CNS a considerar essa opção. Burhan Ghaliun interpelou os homens de negócios sírios e árabes a financiar primeiro os rebeldes e, depois, a fornecer armas.
Países como o Qatar já adiantaram que estão dispostos a isso e o parlamento do Kuwait aprovou uma resolução para armar a oposição. O Ocidente, em troca, exclui essa possibilidade ante o temor que se abra uma nova frente de jihadistas na região. Burhan Ghaliun parece ter se rendido à opção mais dura, Em novembro passado, este professor de Ciência Política dizia no jornal El-fajr: “Nossa revolução é pacífica e é nisso em que reside sua força”.
De fato, a entrega de armas aos rebeldes sírios já era uma realidade. A maioria dos abastecimentos ocorriam através do Iraque. Segundo explicou Ghaliun, a criação do “bureau” militar aponta para coordenar o fornecimento dessas armas e evitar que estas venham de países ou fontes comprometidas.
O dirigente precisou que o bureau estaria localizado “perto do campo de ação”, ou seja, provavelmente na Turquia onde se encontram há muito tempo os oficiais sírios que desertaram e criaram o Exército Sírio Livre (ESL). Em seu encontro com a imprensa, Burhan Ghaliun excluiu, porém, a ideia de que a revolução havia terminado e que agora havia chegado o momento de uma guerra civil na Síria. Algo metafórico em suas declarações, ele insistiu no caráter defensivo das armas: “trata-se de defender os civis e não de lançar a guerra”, repetiu várias vezes.
O corpo formado pela oposição civil e pelos militares desertores é, porém, muito nebuloso. O Exército Sírio Livre (ESL), sob comando do coronel Riad Assaud, é mais uma marca ou um apelo que uma entidade tangível. A falta de coordenação entre seus membros é absoluta. Além disso, não é a única estrutura desse tipo. Em fevereiro, o coronel Mustafá Al-Cheikk – o desertor de maior patente até hoje – criou uma estrutura que compete com o ESL: o “Conselho militar revolucionário superior para a libertação da Síria”.
Seja como for, Burhan Ghaliun assegurou na capital francesa que o “bureau militar” funcionará como um “Ministério da Defesa” e que coordenará as ações do ESL e do outro grupo militar. As palavras são uma coisa, os fatos são outra.
O Conselho Nacional Sírio dá mostras de ter uma postura radicalmente oposta a de Mustafá Al-Cheikk. Este coronel desertor explicou à imprensa desde a Turquia que bastaria dar um golpe em Damasco contra a família que detém o poder “para que o regime caísse”. Mais claro ainda, Al-Cheikk declarou que o que eles queriam era “uma intervenção internacional como a que ocorreu no Kosovo – ex-Iugoslávia -, mesmo sem uma resolução das Nações Unidas”.
Os opositores sírios estão ingressando em um caminho turvo, O CSN assume pela primeira vez a militarização do movimento de contestação contra o regime de Bashar Al Assad que iniciou há um ano. No início, era um movimento essencialmente pacífico, mas agora houve uma mudança de rota. A situação internacional, a força do Irã, a dança movediça da Liga Árabe e o consenso que impera no Ocidente pressagiam dias árduos para esta oposição. A guerra civil se desenha no horizonte como uma opção que voltará a mudar segundo o respaldo ou a indiferença que os rebeldes venham obter.
Tradução: Katarina Peixoto
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