Um gerente de luxo | Paulo Moreira Leite

0 Ronaldo.Livreiro
ISTOÉ


O esforço para encontrar passagens relevantes no discurso de Barack Obama é compreensível.

Vivemos num mundo habituado mentalmente a voltar-se para a Casa Branca em busca de referências. O declínio político do império americano é um dado real de nosso tempo, quando países de vários pontos do planeta questionam sua hegemonia e capacidade de liderança.

Mas até críticos da diplomacia norte-americana agem, assim, como se fosse um reflexo condicionado de Pavlov.
 
O problema é que Obama não pretende entregar aquilo que estes observadores sugerem. Não é o ator adequado para este papel. Nem é este o enredo que foi chamado a representar. O mundo é outro – em resumo.

O Estado americano deixou claro que havia perdido a capacidade de oferecer alternativas para os povos do mundo depois que se mostrou incapaz de apontar uma saída para a recessão mundial iniciada em 2008.

Sem enfrentar o poder descomunal do sistema financeiro internacional, que segue sua política de desmonte de conquistas e benefícios construídos para os trabalhadores e a classe média na saída da depressão de 1929, Obama está condenado a se comportar como um  gerente de luxo da ordem mundial.

Quatro anos depois de ter anunciado que tinha a “mão estendida” para os adversários dos EUA, seu governo realiza operações militares pelo planeta – numa escala que multiplica, várias vezes, a herança de George W. Bush. As relações com seus vizinhos – a começar por Cuba – sequem abaixo de qualquer padrão civilizado.

É sintomático que os grandes personagens de seu discurso de posse tenham sido gays e imigrantes. É louvável que o presidente do país que abriga o maior PIB do planeta faça a defesa dos direitos dos homossexuais.

Também deve-se elogiar a preocupação com o tratamento dispensado aos estrangeiros que decidem mudar-se para os EUA em busca de uma vida melhor. A discriminação contra essas pessoas é vergonhosa e inadmissível.

Mas nós sabemos que em nenhuma sociedade essas questões podem ser resolvidas sem a retomada do emprego, o crescimento econômico, a defesa dos programas de bem-estar.  Tudo isso parece distante.

Após fazer concessões impensáveis ao sistema financeiro, desmobilizando as parcelas mais combativas da sociedade americana, das quais se distanciou depois da posse, Obama volta a negociar migalhas financeiras do orçamento que lhe permitam apenas sobreviver.

É constrangedor, nessa situação, fazer comparações com frases de Franklin Roosevelt, o arquiteto da grandeza americana do século XX.  Roosevelt fez um governo que investiu na produção, mobilizou sindicatos e industriais e recebeu o justo ódio das forças mais reacionárias do país, que só tiveram votos para arrancar seu sucessor Harry Truman da Casa Branca após cinco derrotas consecutivas.

Mesmo a comparação com John Kennedy é inapropriada, ainda que o curto governo de JFK tenha sido embelezado por uma eficiente reconstrução póstuma.

Obama não formula, apenas administra.

Eleito como o candidato menos ruim da campanha – vamos combinar que Mitt Romney era uma barbada –, seu segundo mandato exige um otimismo relativo.

Pode-se torcer para que o mundo não fique pior após quatro anos de mandato. Apenas isso.

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