Carta Maior
Vinicius Mansur
Brasília - No final da tarde desta segunda-feira (5), uma carta assinada pelo ministro dos Esportes, Aldo Rebelo (PCdoB), endereçada ao presidente da Fifa, Joseph Blatter , comunicou oficialmente à entidade gestora do futebol mundial que o governo brasileiro não reconhece mais o seu secretário-geral, Jêróme Valcke, como interlocutor. No texto, o ministro afirma ter recebido com espanto “as declarações inapropriadas” de Valcke à imprensa internacional.
No último fim de semana, o secretário-geral da Fifa criticou a organização do mundial e afirmou que o Brasil precisa de ”um chute no traseiro”. Ainda no fim de semana, Aldo Rebelo criticou a postura do francês e disse que o governo não trataria mais com ele francês sobre a Copa 2014. Em sua tréplica, Valcke chamou o ministro dos Esportes de infantil.
Contudo, o secretário-geral da Fifa mudou rápido de ideia. Poucas horas depois de ter recebido a carta de Rebelo, ele respondeu lamentando a interpretação incorreta de suas palavras. O secretário-geral disse que “em francês, ‘se donner un coup de pied aux fesses’ significa apenas "acelerar o ritmo", e, infelizmente, essa expressão foi traduzida para o português usando palavras muito mais fortes." Entretanto, Valcke pediu desculpas ao ministro e a todos que se sentiram ofendidos com suas palavras. No documento, ele reitera que o "Brasil é e sempre será a única opção para sediar a Copa do Mundo da Fifa 2014".
Repercussão
Na manhã desta segunda-feira, o assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, desde Hannover, Alemanha, onde acompanha a comitiva da presidenta Dilma Rousseff, disse à imprensa que o interlocutor da Fifa “já está riscado” e o chamou de “vagabundo” e “boquirroto”. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), que também está em Hannover, afirmou que a presidenta Dilma aprovou a postura do ministro dos Esportes.
O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), endossou o coro. "É uma declaração que merece, na verdade, que a gente dê um chute de volta". Segundo Maia, nada é imposto ao Parlamento do Brasil “nem pelo governo, nem pelas entidades do país e, muito menos, por entidades de fora do país". Para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Aldo Rebelo “falou em nome de todo o povo brasileiro, do nosso sentimento dessa intromissão indevida”.
O deputado Romário (PSB-RJ), integrante da Comissão Especial que analisa a Lei Geral da Copa (PL 2330/11) e que já declarou a imprensa que lutaria “até onde puder para que a Fifa não monte um Estado dentro desse Estado”, considerou, por meio do Twitter, como “mal colocada e no mínimo mal educada” as expressões utilizadas por Valcke. Porém, Romário ponderou que o secretário “tem 100% de razão quando fala que o Brasil está atrasado”.
O presidente da Comissão Especial, o deputado Renan Filho (PMDB – AL), emitiu nota oficial chamando o francês de deselegante, inconsequente e desrespeitoso, além de garantir que o relatório do deputado Vicente Cândido sobrea Lei Geral da Copa será votado amanhã (6) e encaminhado ao plenário da Câmara ainda nesta quarta-feira (7).
Vinda de Valcke ao Brasil segue de pé
De acordo com a assessoria do Comitê Organizador Local (COL) da Copa 2014, as polêmicas com o governo não devem impedir a visita de Valcke ao Brasil, agendada para o próximo dia 12. Segundo o assessor de imprensa do COL e da CBF, Rodrigo Paiva, a visita que irá acompanhar as obras é de “um grupo do COL e um grupo da FIFA, não tem nada a ver com o governo”. A programação da visita deverá ser fechado ainda esta semana, mas a previsão é de que Valcke, acompanhado dos ex-jogadores Ronaldo e Bebeto, passem por Recife, Brasília e Cuiabá.
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